5 histórias de inspiração para Professores

5 histórias de inspiração para Professores

Nas mais diversas cidades, nos pequenos povoados, zonas rurais, das aldeias às grandes metrópoles brasileiras, o dia 15 de outubro é marcado por homenagens aos Professores dos mais diversos segmentos educacionais.
O Nupett traz um pouco da história de 5 personalidades que são inspirações para Professores do Brasil e do mundo, por suas histórias de luta, resiliência, dedicação e valorização da carreira docente.

Paulo Freire – https://pt.org.br/artigo-centenario-de-paulo-freire-o-mestre-de-todos-nos-educadores/

Se houve um intelectual que contribuiu mais decisivamente para compreendermos o significado da educação, não temos dúvidas em afirmar que foi Paulo Freire. Ele não ofereceu apenas explicações educacionais para o homem se livrar dos grilhões da escuridão. Mais do que isto, situou a educação no contexto da práxis, analisando a sociedade e sua política, e oferecendo soluções para os grandes problemas da educação, não apenas brasileira, mas latino-americano e quiçá mundial.

Para realizar esta tarefa tão ambiciosa da educação como prática da liberdade, afinal, o Brasil vivia um período de ditadura militar, Paulo Freire usou do método de alfabetização popular conectando o sujeito com as experiências vividas. No método do movimento da dialética, ele foi rigoroso, e na prática da crítica, contundente, mesmo em tempos ásperos que levaram a sua prisão e depois exílio. Isto não o impediu de encarar com paixão seu objeto de estudo, que foi também um projeto de liberdade e emancipação do homem: a educação da pedagogia do oprimido.

Estando entre os principais educadores já existentes, Paulo Freire é um dos mais amplamente citados e também um dos mais raramente lidos com a devida atenção. Ao lado de Marx, certamente é, de igual modo, um dos mais incompreendidos, principalmente por seus críticos de redes sociais. Um mito cerca seu legado: de que era um educador comunista. Na verdade, ele era um socialista que acreditava na participação popular e na transformação do mundo por aqueles que são desprovidos do seu direito de ser. Por isso se empenhou na alfabetização de jovens e adultos enquanto um direito do homem de ser cidadão. Este foi seu compromisso histórico, ético e político!

Exilado não apenas por suas ideias, mas por sua práxis revolucionária, na Pedagogia do Oprimido, assim como a Pedagogia da Esperança e a Pedagogia da Autonomia, utilizou o método de alfabetizar e conscientizar jovens e adultos como prática da liberdade e do direito do homem se tornar cidadão do mundo. Esta foi sua paixão, tornando sua obra e sua vida cheia de energia e de vontade de transformação da educação brasileira. A paixão otimista que alimentava a ação o levou ao exílio, mas sem perder a capacidade de influenciar diretamente os destinos dos educadores brasileiros. O retorno do exílio e a participação como Secretário de Educação do governo de Luiza Erundina, em São Paulo, permitiu-lhe problematizar a educação e retomar a concepção crítica da realidade, tão obscura pelos tempos ásperos da ditadura civil-militar.

A paixão de Paulo Freire não foi somente o desenvolvimento da educação, mas também a democracia. Paixão alimentada pela crença de que o desenvolvimento estava ao alcance dos brasileiros no momento histórico em que o país apresentava elevada taxa de analfabetismo, nos anos 1960. A ideia é simples e poderosa. Só essa paixão explica a força de seu pensamento. Sua esperança foi grande com o desenvolvimento da política educacional dos oprimidos, mas a desilusão e a frustração com os rumos da política educacional do país enquanto “depósito de conteúdo” foram maiores ainda.

Pensando sempre de forma independente e crítica, sua capacidade política de inferência e de dedução é poderosa e ele parte sempre da observação da realidade empírica, pois como diz Frei Betto; “A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam”. Desta forma, evita partir de pressupostos gerais e hipóteses abstratas de deduzir a realidade e seu movimento histórico. Procura a partir da realidade e do seu movimento histórico e político, inferir a teoria através da práxis revolucionária.

Mesmo assim, ele não deixa de crer na utopia como um movimento dialético de transformação das estruturas sociais, impulsionado pela esperança de que o homem oprimido seja um sujeito histórico do processo, ainda mais nos anos 1960, com a exclusão dos analfabetos do direito ao voto, e que representa a ampla maioria das classes populares. Seu estilo de ação era baseado em uma pedagogia que buscou eliminar pela raiz as relações autoritárias de exclusão das massas populares do direito de ser cidadão.

Contudo, como educador dos oprimidos, Paulo Freire é tudo isso e muito mais do que isto. Sua luta pela educação popular, compreensão das estruturas sociais e superação do atraso estrutural do país – em suas múltiplas facetas – foi realizada com uma intensidade e uma determinação que só a paixão libertadora e o método pedagógico humanista explicam.

Luciane Carminatti é professora, deputada estadual e presidenta da Comissão de Educação da ALESC

Juliano Giassi Goularti é doutor pelo Instituto de Economia da UNICAMP e pesquisador do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (NECAT) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Antonieta de Barros – https://brasil.elpais.com/opiniao/2020-10-15/antonieta-de-barros-a-parlamentar-negra-pioneira-que-criou-o-dia-do-professor.html

Um menino no interior do Maranhão comemora o 15 de outubro, assim como uma menina gaúcha. O dia do professor é celebrado em todo o Brasil. Sabem esses estudantes quem é a extraordinária heroína brasileira que criou a data? Seus feitos, sua história? Sabem os professores destes estudantes algo sobre ela? Ou será que esta personagem fantástica, mulher e negra, foi invisibilizada?

Antonieta de Barros foi excepcional. Está entre as três primeiras mulheres eleitas no Brasil. A única negra. Foi eleita em 1934 deputada estadual por Santa Catarina, mesmo ano que a médica Carlota Pereira de Queirós foi eleita deputada federal por São Paulo. Sete anos antes, Alzira Soriano havia sido eleita prefeita num pequeno município do Rio Grande do Norte, primeiro estado a permitir disputas femininas.

Expoente da ideia “anárquica” de que as mulheres deveriam ter direito ao voto, a bióloga Bertha Lutz trocou inúmeras cartas com Antonieta na década de 1930. Vale lembrar, Antonieta foi eleita menos de meio século após a abolição da escravatura e apenas dois do sufrágio —que deu às mulheres direito ao voto facultativo. Num país fortemente preconceituoso quanto à classe, cor e gênero tinha orgulho de sua história.

Nasceu em Desterro, como era chamada Florianópolis, no dia 11 de julho de 1901. No registro de batismo, na Cúria Metropolitana, realizado pelo Padre Francisco Topp, não aparece o nome do pai. A mãe era Catarina Waltrich, escrava liberta. No imaginário popular, a verdadeira paternidade estaria ligada à família Ramos, uma das mais tradicionais do Estado.

A bandeira política de Antonieta era o poder revolucionário e libertador da educação para todos. O analfabetismo em Santa Catarina, em 1922, época que começou a lecionar, era de 65%. Isso que o Estado, sobretudo pela presença alemã, aparecia com um dos índices mais altos de escolarização do país, seguidos por São Paulo.

Segundo conta Karla Leonora Dahse Nunes na sua dissertação de mestrado, Catarina teve três filhos e os sustentava como lavadeira, serviço comum às mulheres negras da época. Também teve, com a ajuda financeira de Vidal Ramos, uma pequena pensão para estudantes. Foram esses jovens que ensinaram as letras tardiamente para a curiosa Antonieta. Alfabetizada, mergulhou por conta própria no universo dos livros.

Professora formada, tinha 17 anos quando fundou o curso particular “Antonieta de Barros”, com o objetivo de combater o analfabetismo de adultos carentes. Sua crença era que a educação era a única arma capaz de libertar os desfavorecidos da servidão. Sua fama de excelente profissional, no entanto, fez com que lecionasse também para a elite nos Colégio Coração de Jesus, Dias Velho e Catarinense.

Se existissem barreiras, lá estaria Antonieta para rompê-las.

Sua defesa acirrada pela educação fez com que ocupasse as páginas dos jornais. Além de professora, virou cronista. Não havia outra mulher em posição semelhante no Estado. Em 23 anos de contribuição à imprensa escreveu mais de mil artigos em oito veículos e criou a revista Vida Ilhoa.

De seus opositores nos jornais e nas bancadas, ouviu que “mulheres não deveriam opinar, pois nasceram para servir”, “que a natureza não dá saltos, cada ser deve conservar-se no seu setor, e a finalidade da mulher é ser mãe e ser rainha do lar” e que “não seguisse o exemplo de Anita Garibaldi, uma vagabunda”.

Mas aqueles homens brancos da elite oligárquica e política, não a intimidaram. Antonieta era forte, mulher de fibra. Não havia quem tivesse argumentos para calá-la. As calúnias eram rebatidas com intelecto e destreza nos artigos assinados sob pseudônimo Maria da Ilha. Sua caneta era afrontosa. Escrevia sobre educação, os desmandos políticos e a condição feminina. Dizia que as mulheres não deveriam ser “virgens de ideias”.

Honesta, enérgica e humana, era respeitada e admirada por seu espírito de justiça. Tinha voz numa época que as mulheres eram silenciadas. Escreveu dois capítulos da Constituição catarinense, sobre Educação e Cultura e Funcionalismo, até ser destituída do cargo pelo golpe de Getúlio Vargas.

Em 1937, publicou o livro Farrapos de Ideias. Os lucros da primeira edição foram doados para construção de uma escola para abrigar crianças, filhas de pais internados no leprosário Colônia Santa Tereza. A obra teve outras duas edições.

Uma das poucas frustrações da carreira de Antonieta foi não ter cursado o ensino superior. Seu sonho era a Faculdade de Direito, exclusiva para homens. Mas na política ela brilhou, foi eleita novamente em 1947. Desde sua vitória, apenas outras 15 mulheres ocuparam uma cadeira na Assembleia de Santa Catarina. Nenhuma negra. Antonieta ainda não teve herdeira de luta.

A primeira grande lei educacional do Brasil foi sancionada por dom Pedro I em 15 de outubro em 1827, um marco para a educação brasileira. A data era comemorada informalmente, mas foi um projeto de Antonieta a lei que criou o Dia do Professor e o feriado escolar nessa data (Lei Nº 145, de 12 de outubro de 1948), em Santa Catarina. A data seria oficializada no país inteiro somente 20 anos depois, em outubro de 1963, pelo presidente da República, João Goulart. Outras leis importantes foram concessões de bolsas de cursos superiores para alunos carentes e concursos para o magistério, para elevar o ensino público e evitar apadrinhamentos.

Antonieta deveria ser uma espécie de Frida Kahlo brasileira. Foi feminista numa sociedade conservadora, negra e mulher numa terra de oligarquias, mestre de centenas de jovens da elite branca que jamais deixaram de reverenciar sua cultura e personalidade. E é a prova que não são apenas as manifestações de raiz açoriana que sustentam a cultura de Florianópolis.

“A grandeza da vida, a magnitude da vida, gira em torno da educação”, escreveu em seu livro. Seu nome deveria ser conhecido por cada criança que homenageia seus professores no dia 15 de outubro. Por cada mulher que exerce seu direito ao voto e disputa vagas nas eleições. Por fim, por cada brasileiro que sai às ruas indignado com os preconceitos de cor, classe e gênero.

213 anos de escravidão: a herança de Antonieta

Para percebermos como Antonieta foi célebre basta entender um pouco do contexto histórico de Santa Catarina, o Estado com maior população dita branca do país. Da primeira expedição de Martim Afonso de Souza, em 1531, até o último navio negreiro que aportou no Rio de Janeiro, em 1856, quatro milhões de africanos foram sequestrados para se tornarem escravos em solo brasileiro.

Desterro (Florianópolis), território Guarani, foi povoada em 1675, quando o bandeirante Francisco Dias Velho, vindo da Capitania de São Vicente (São Paulo), se apossou das terras com sua família e uma comitiva de 400 pessoas, a maioria, indígenas e negros escravizados.

Há inegáveis traços africanos na construção da identidade catarinense, mas eles são apagados. A presença negra não é lembrada pela história popular, embora, no século 19, 20% da população de Desterro tenha sido negra. No mesmo período, no Planalto Serrano, de onde veio Catarina, mãe de Antonieta de Barros, chegava a 50%, de acordo com o livro Negro em Terra de Branco, escrito por Joana Maria Pedro, Ligia de Oliveira Czesnat, Luiz Felipe Falcão, Orivalda Lima e Silva, Paulino Francisco de Jesus Cardoso e Rosângela Miranda Cherem.

Segundo o livro, a economia da província não se baseava em latifúndios, mas a presença negra não era, de modo algum, inexpressiva. O negro escravizado desempenhava funções na pesca de peixes e baleias. Trabalhava com seus senhores nas plantações de arroz e mandioca. Exercia ofícios de sapateiros, pedreiros, marceneiros, ferreiros e soldados. Servia para os cuidados domésticos da elite burocrática e militar. E ainda como lava-pés e cadeirinhas.

resistência à escravidão é bastante documentada do começo a metade do século 19. Da criação de grupos cívicos à fundação de irmandade como a Nossa Senhora do Rosário, que coletava fundos para compras de alforrias. A opressão não era pouca. Negros não podiam se aglomerar, “vadiar” pelas ruas, nem cantar e dançar sob pena de 50 chibatadas.

No livro Navegadores e Exploradores de Santa Catarina, Roberto Wildner traz a figura do naturalista Langsdorff. É do cientista o relato cruel sobre o comércio em Desterro, em 1803: “A quantidade de escravos negros de ambos os sexos que se veem aqui é estranha aos olhos desacostumados de um europeu qualquer. Despertou-me revolta especial quando vim pela primeira vez a Nossa Senhora do Desterro e vi um grande número destas criaturas abandonadas, nuas, deitadas frente às portas de ruas laterais e oferecidas à venda. Apenas as regiões púbias estavam cobertas com um velho pano rasgado que após alguns dias eram substituídos por um grosseiro tecido azulado”.

Em Florianópolis, a primeira vez que esse tema apareceu no mundo acadêmico foi em 1960, na pesquisa dos jovens sociólogos, à época, Fernando Henrique Cardoso e Otavio Ianni, reeditada como Negros em Florianópolis. Na obra, ficam claro os preconceitos de cor e o quanto Santa Catarina se esforçou para ser a “Europa dentro do Brasil”.

Não foi o espírito humanitário que engajou as campanhas abolicionistas. Foi a esperança no branqueamento da população que ansiava pela modernidade econômica. O negro não cabia nesse plano, pois era visto como atraso, um impeditivo aos novos tempos. O resultado da repulsa pelos negros foi que os abolicionistas não lutaram por retratação histórica, nem se preocuparam com o destino de milhares de pessoas após a abolição.

Desterro ansiava pela chegada dos europeus, que deixariam a população de pele e olhos claros e teriam vocação para o trabalho e o progresso. Tinha pressa. Foi a terceira capital da abolição. Jornais da época tinham como principais produtos de beleza, o “Cremme Oriza, para branquear, abrandar e refrescar a pele” e o “Tônico Oriental para cabelos finos como seda”.

No entanto, nos portos aos quais chegaram os imigrantes, primeiro os açorianos, depois alemães e italianos, eram os negros que trabalhavam de estivadores. Já no início do século XX, o início da modernização arquitetônica modificou a imagem de Florianópolis. Os casebres dos negros, situados no centro da cidade, foram demolidos. O de Antonieta permaneceu em pé por interferência da família Ramos.

Criou-se, então, a lei das tábuas. O governo deu tábuas para os negros com a condição que construíssem suas casas longe da vista. Aí começou a ocupação dos morros. Surgiram as comunidades do Morro da Caixa D’Água, da Coloninha e do Continente. Em seguida, nasceram clubes como União Recreativa 25 de Dezembro, Brinca Quem Pode, Flor da Mocidade, Flor do Abacate, Tiramão.

Houve o florescimento de uma intelectualidade negra, Ildefonso Juvenal da Silva, Trajano Mar­garida, João Rosa Júnior, Amália Efigênia da Silva, Maria da Rosa Lapa, Demerval Cordeiro dos Santos, Maria Carlita, Dorvalina Machado Coelho e Maria Venânia —professores, jornalistas, poetas, compositores, músicos, oradores da geração de Antonieta—, costumeiramente desdenhados pela elite branca.

Antonieta era a exceção. Era aceita pelos brancos. Mas, vale ressaltar que, de 1929 a 1951, escreveu em oito jornais sem nunca ter falado de sua cor. O que não foi impeditivo para ouvir de um colega de bancada parlamentar, o médico Oswaldo Rodrigues Cabral, que ela escrevia “intriga barata de senzala”.

Aline Torres é jornalista, escritora e criadora da Construtores de Memórias, uma agência de narrativas, especializada em transformar lembranças afetivas em livros, reportagens e documentários.

Débora Seabra – https://catracalivre.com.br/cidadania/debora-seabra-primeira-professora-com-sindrome-de-down-do-pais/

Débora Seabra, a primeira professora com síndrome de Down do país

Ela chegou a ser agredida durante o magistério, fez greve para ser respeitada e hoje atua em um colégio particular tradicional de Natal

“Ainda falta muita gente acreditar na inclusão”, afirma Débora Araújo Seabra de Moura, 34 anos, a primeira educadora com síndrome de Down do Brasil. Ela, que na época do curso de magistério fez greve para não entrar na sala de aula enquanto não fosse aceita como igual, rompeu o preconceito lutando e mostrando o poder desta palavra transformadora: a inclusão.

Aos 20 anos, Débora decidiu que sua profissão seria na área da educação. Nesta época, ela já havia feito diversos estágios e experimentado cargos em lojas, como recepcionista de eventos e até chegou a desfilar para uma butique. “Mas, quando fiz estágio em educação infantil, eu me apaixonei pelo trabalho com crianças e resolvi ser professora”, diz ao Catraca Livre.

Débora sempre estudou em escolas da rede regular de ensino em Natal (RN). O diagnóstico genético não a impediu de buscar seus sonhos, muito menos seus pais, que apoiaram a escolha da filha desde o início. Ao terminar o ensino médio, a jovem potiguar ingressou no curso de magistério (de nível médio) na Escola Estadual Prof. Luiz Antônio e o finalizou em 2005, depois de quatro anos.

Após o ensino médio, Débora iniciou o magistério de nível médio

No entanto, este foi um período conturbado, ao mesmo tempo em que se tornou um divisor de águas em sua vida. Durante o curso, chegou a ser agredida e passou por situações constrangedoras vindas dos colegas de classe. “Não foi fácil, mas uma turma do curso científico me acolheu e até fiz greve de não entrar na sala”, relembra.

“Eu sofri muito, mas não desisti dos meus sonhos”, sonhos que lhe serviam de combustível para driblar os preconceitos. No último ano de magistério, foi escolhida como rainha da escola na festa de São João. Além disso, no convite de formatura, foi homenageada pela luta a favor da inclusão social. Uma vitória para Débora, uma lição para todos nós.

A formação para se tornar professora não parou por aí. “Depois fiz alguns estágios [um deles na Unicamp – Universidade Estadual de Campinas] e dois cursos a distância para professores”, conta. Hoje, ela trabalha como professora assistente na Escola Doméstica, um colégio particular tradicional de Natal, e sustenta uma carreira de 12 anos atuando na educação.

Como professora assistente, Débora ajuda a cuidar e alfabetizar crianças

No dia a dia escolar, Débora participa do projeto pedagógico; na sala, ajuda a cuidar e alfabetizar crianças de 6 a 7 anos do 1º ano do ensino fundamental, junto com a professora titular e outra professora auxiliar. Sua primeira tarefa é fazer uma rodinha de conversa com as crianças assim que elas chegam. “Para estimular a atenção, a oralidade e a memória dos alunos”, explica ela.

“Depois é a hora da agenda e das atividades. Trabalhamos todas juntas. Para trabalhar em equipe, recebo o planejamento da semana toda sexta-feira e, na segunda-feira, passo a manhã estudando esse planejamento com minha orientadora”, diz, ao descrever um pouquinho de como funciona sua rotina de trabalho na escola. “Essa experiência tem sido muito rica.”

Débora e suas histórias

A professora já rodou o Brasil e foi a outros países, como Argentina e Portugal, para dar palestras sobre o combate ao preconceito na sala de aula.  Em 2013, ela lançou seu primeiro livro, chamado “Débora Conta Histórias” (Alfaguara Brasil), recheado de fábulas infantis que tratam de forma sutil a tolerância, o respeito e a amizade.

A obra reúne histórias que se passam na fazenda e têm animais como protagonistas, só que inspirados em suas vivências pessoais. Uma das fábulas, por exemplo, é sobre a discriminação que o pato sofria por não querer namorar outras patas, mas sim patos. Em outra história, ela aborda a amizade entre um cachorro e um papagaio. O texto da contracapa é assinado pelo escritor João Ubaldo Ribeiro (1941-2014).

“Fiz este livro para ser presente de Natal [em 2010] aos meus pais, que não sabiam de nada. Foi surpresa”, revela a autora. Seus pais foram importantíssimos em sua formação. A mãe, a advogada Margarida Araújo Seabra de Moura, 74 anos, e o pai, o médico psiquiatra José Robério, 75 anos, jamais imaginaram colocar a filha em uma escola que não fosse a regular.

Margarida, que é uma das fundadoras da Associação de Síndrome de Down do Rio Grande do Norte e criadora da Comissão de Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB/RN, afirma que Débora foi criada longe de qualquer preconceito dentro de casa e que sempre foi tratada de igual para igual com o irmão mais velho, o advogado Frederico Araújo Seabra de Moura, 36 anos.

Escola regular para todos é o caminho para a inclusão

Por sua própria experiência, Débora é contra as escolas especiais para pessoas com síndrome de Down. Quando questionada sobre a importância da inclusão dentro da sala de aula regular, ela responde: “Porque é importante vivermos todos juntos, convivendo com as diferenças todos aprendem mais”.

Apesar de ainda não ser o suficiente, Débora se mantém positiva em relação aos recursos para promover a inclusão de alunos com algum tipo de deficiência física ou mental nas escolas públicas e/ou privadas. “Avançamos porque tem muito jovem com síndrome de Down que terminou faculdade e hoje está trabalhando. Além disso, a maioria das crianças está indo para a escola regular. Eu mesma já tive aluna com síndrome de Down e outra surda”, defende.

Débora durante palestra em que é convidada para falar sobre inclusão

Em 2015, ganhou o Prêmio Darcy Ribeiro de Educação, em Brasília, sendo a primeira pessoa com Down a receber a menção honrosa que leva o nome do antropólogo e escritor Darcy Ribeiro (1922-1997). Ela foi considerada exemplo no desenvolvimento de ações educativas no Brasil. O prêmio é promovido pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados e acontece anualmente.

O mês de março reserva uma data escolhida de forma inteligente para ser o Dia Internacional da Síndrome de Down. Eis a explicação: a síndrome trata de uma alteração genética no cromossomo “21”, geralmente formado por um par na maior parte das células de um indivíduo, mas, no caso das pessoas com Down, aparece com “3” exemplares (trissomia). Por isso o “21/03”.

A ideia nasceu na Down Syndrome Internacional, por conta do geneticista da Universidade de Genebra, Stylianos E. Antonorakis. Depois, foi referendada pela Organização das Nações Unidas em seu calendário e oficialmente estabelecida em 2006. O objetivo não é “comemorar” uma síndrome, mas dar visibilidade ao tema e combater o preconceito gerado pela falta de informação.

É uma data importante para que Débora e demais jovens e crianças com Down possam continuar sonhando, se fortalecendo e ocupando seus espaços na sociedade. E para que a frase “ainda falta muita gente acreditar na inclusão” seja coisa do passado.

Atualizado: 12/12/2019 – 10:2421/03/2017 – 9:20Por: Tamiris Gomes

Anísio Teixeira – https://novaescola.org.br/conteudo/1375/anisio-teixeira-o-inventor-da-escola-publica-no-brasil

Anísio Teixeira, o inventor da escola pública no Brasil

O educador propôs e executou medidas para democratizar o ensino brasileiro e defendeu a experiência do aluno como base do aprendizado

Considerado o principal idealizador das grandes mudanças que marcaram a educação brasileira no século 20, Anísio Teixeira (1900-1971) foi pioneiro na implantação de escolas públicas de todos os níveis, que refletiam seu objetivo de oferecer educação gratuita para todos. Como teórico da educação, Anísio não se preocupava em defender apenas suas idéias. Muitas delas eram inspiradas na filosofia de John Dewey (1852-1952), de quem foi aluno ao fazer um curso de pós-graduação nos Estados Unidos.

Dewey considerava a educação uma constante reconstrução da experiência. Foi esse pragmatismo, observa a professora Maria Cristina Leal, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que impulsionou Anísio a se projetar para além do papel de gestor das reformas educacionais e atuar também como filósofo da educação. A marca do pensador Anísio era uma atitude de inquietação permanente diante dos fatos, considerando a verdade não como algo definitivo, mas que se busca continuamente.

Para o pragmatismo, o mundo em transformação requer um novo tipo de homem consciente e bem preparado para resolver seus próprios problemas acompanhando a tríplice revolução da vida atual: intelectual, pelo incremento das ciências; industrial, pela tecnologia; e social, pela democracia. Essa concepção exige, segundo Anísio, “uma educação em mudança permanente, em permanente reconstrução”.

Didática da ação

As novas responsabilidades da escola eram, portanto, educar em vez de instruir; formar homens livres em vez de homens dóceis; preparar para um futuro incerto em vez de transmitir um passado claro; e ensinar a viver com mais inteligência, mais tolerância e mais felicidade. Para isso, seria preciso reformar a escola, começando por dar a ela uma nova visão da psicologia infantil.

O próprio ato de aprender, dizia Anísio, durante muito tempo significou simples memorização; depois seu sentido passou a incluir a compreensão e a expressão do que fora ensinado; por último, envolveu algo mais: ganhar um modo de agir. Só aprendemos quando assimilamos uma coisa de tal jeito que, chegado o momento oportuno, sabemos agir de acordo com o aprendido.

Para o pensador, não se aprendem apenas idéias ou fatos mas também atitudes, ideais e senso crítico – desde que a escola disponha de condições para exercitá-los. Assim, uma
criança só pode praticar a bondade em uma escola onde haja condições reais para desenvolver o sentimento. A nova psicologia da aprendizagem obriga a escola a se transformar num local onde se vive e não em um centro preparatório para a vida. Como não aprendemos tudo o que praticamos, e sim aquilo que nos dá satisfação, o interesse do aluno deve orientar o que ele vai aprender. Portanto, é preciso que ele escolha suas atividades.

Por tudo isso, na escola progressiva as matérias escolares – Matemática, Ciências, Artes etc. – são trabalhadas dentro de uma atividade escolhida e projetada pelos alunos, fornecendo a eles formas de desenvolver sua personalidade no meio em que vivem. Nesse tipo de escola, estudo é o esforço para resolver um problema ou executar um projeto, e ensinar é guiar o aluno em uma atividade. 

Quanto à disciplina, Anísio afirmava que o homem educado é aquele que sabe ir e vir com segurança, pensar com clareza, querer com firmeza e agir com tenacidade. Numa escola democrática, mestres e alunos devem trabalhar em liberdade, desenvolvendo a confiança mútua, e o professor deve incentivar o aluno a pensar e julgar por si mesmo. “Estamos passando de uma civilização baseada em uma autoridade externa para uma baseada na autoridade interna de cada um de nós”, diz ele em seu livro Pequena Introdução à Filosofia da Educação.

Como preparar o professor para essa tarefa hercúlea da escola de hoje, ocupada por tantos alunos que não se contentam em aprender apenas as técnicas e conhecimentos mais simples mas também as últimas conquistas da ciência e da cultura? O que fazer quando eles exigem informações até mesmo sobre tendências indefinidas e problemas sem solução? Para responder a tantas questões, os educadores do mundo todo precisarão de novos elementos de cultura, de estudos e de recursos, propôs o pensador, que na prática instalou novos cursos para professores. Só assim, dizia, os mestres tentarão renovar a humanidade para “a grande aventura de democracia que ainda não foi tentada”. 

A escola pública e integral como solução

Para ser eficiente, dizia Anísio, a escola pública para todos deve ser de tempo integral para professores e alunos, como a Escola Parque por ele fundada em 1950 em Salvador, que mais tarde inspiraria os Centros Integrados de Educação Pública (Cieps) do Rio de Janeiro e as demais propostas de escolas de tempo integral que se sucederam. Cuidando desde a higiene e saúde da criança até sua preparação para a cidadania, essa escola é apontada como solução para a educação primária no livro Educação Não É Privilégio. Além de integral, pública, laica e obrigatória, ela deveria ser também municipalizada, para atender aos interesses de cada comunidade. O ensino público deveria ser articulado numa rede até a universidade. Anísio propôs ainda a criação de fundos financeiros para a educação, mas, mesmo com o atual Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), os recursos são insuficientes para sustentar esse modelo de escola.

Biografia

Anísio Spínola Teixeira nasceu em 12 de julho de 1900 em Caetité (BA). Filho de fazendeiro, estudou em colégios de jesuítas na Bahia e cursou direito no Rio de Janeiro. Diplomou-se em 1922 e em 1924 já era inspetor-geral do Ensino na Bahia. Viajando pela Europa em 1925, observou os sistemas de ensino da Espanha, Bélgica, Itália e França e com o mesmo objetivo fez duas viagens aos Estados Unidos entre1927 e 1929. De volta ao Brasil, foi nomeado diretor de Instrução Pública do Rio de Janeiro, onde criou entre 1931 e 1935 uma rede municipal de ensino que ia da escola primária à universidade. Perseguido pela ditadura Vargas, demitiu-se do cargo em 1936 e regressou à Bahia – onde assumiu a pasta da Educação em 1947. Sua atuação à frente do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos a partir de 1952, valorizando a pesquisa educacional no país, chegou a ser considerada tão significativa quanto a Semana da Arte Moderna ou a fundação da Universidade de São Paulo. Com a instauração do governo militar em 1964, deixou o instituto – que hoje leva seu nome – e foi lecionar em universidades americanas, de onde voltou em 1965 para continuar atuando como membro do Conselho Federal de Educação. Morreu no Rio de Janeiro em março de 1971.

Educação como meta política

Nos anos 1920, com a crescente industrialização e a urbanização em todo o mundo, a necessidade de preparar o país para o desenvolvimento levou um grupo de intelectuais brasileiros a se interessar pela educação – vista como elemento central para remodelar o país. Os novos teóricos viam num sistema estatal de ensino livre e aberto o único meio efetivo de combate às desigualdades sociais. Esse movimento chamado de Escola Nova ganhou força nos anos 1930, principalmente após a divulgação, em 1932, do Manifesto da Escola Nova. O documento pregava a universalização da escola pública, laica e gratuita. Entre os nomes de vanguarda que o assinaram estavam, além de Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo (1894-1974), que aplicou a sociologia à educação e reformou o ensino em São Paulo nos anos 1930, o professor Lourenço Filho (1897-1970) e a poetisa Cecília Meireles (1901-1964). A atuação desses pioneiros se estendeu por décadas, muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa. Mas eles ampliaram sua atuação e influenciaram uma nova geração de educadores como Darcy Ribeiro (1922-1997) e Florestan Fernandes (1920-1995). Anísio foi mentor de duas universidades: a do Distrito Federal, no Rio de Janeiro, desmembrada pela ditadura de Getúlio Vargas, e a de Brasília, da qual era reitor quando do golpe militar de 1964.

Para pensar

As escolas comunitárias americanas inspiraram a concepção de ensino de tempo integral de Anísio Teixeira. Lá, no entanto, a jornada dificilmente tem mais do que seis horas diárias. O conceito entre nós ampliou-se consideravelmente: escola de pelo menos oito horas e, no caso dos Cieps, uma instituição que deveria dar conta de todas as necessidades das crianças, até mesmo de cuidados maternos e moradia. Numa realidade na qual os recursos são limitados, o problema é de prioridades e decisões difíceis: manter uma escola com esse modelo para uma minoria ou manter um modelo menos ambicioso para a maioria? Afinal, Anísio também propunha uma escola para todos.

POR:Márcio Ferrari
01 de Outubro | 2008

Na Europa, e em particular em França, Feinet é considerado o pedagogo que mais desenvolveu a aplicação do método de projeto e a pedagogia do projeto. De acordo com a sua proposta, a criança deve compreender o mundo na sua complexidade através do rigor do pensamento com base na pesquisa reflexiva.

Com uma vivência nas pedagogias da autonomia de Bakunine, adepto e defensor da Escola Nova, Freinet desenvolveu o seu método com base na ideia da Escola Democrática, onde para além das técnicas pedagógicas, também o ambiente escolar e o meio social onde a escola se insere, não devem ser ignorados pelo pedagogo. A sua proposta parte do objetivo da ação educadora, de formar sere humanos. Por isso o educado dever envolver-se com a vida da sua comunidade, participando em associações e movimento sociais, através das quais é possível contribuir para a formação dos alunos. Na sua filosofia o trabalho do educador deve orientar-se para o desenvolvimento de ações cooperativas e solidárias, usando o mínimo de recursos (a reciclagem de materiais deriva de várias experiencias de pedagogia em áreas pobres)

A sua experiencia na primeira guerra mundial, torna-o um pacifista convicto. Também em resultado das lesões sofridas, desenvolveu o processo de impressão de materiais criados na sala de aulo, os jornais de parede e os jornais escolares, onde os alunos pesquisavam e discutiam os seus resultados.

Em 1924 Freinet criou uma cooperativa de trabalho com professores na aldeia onde viva, que é considerada o berço da Escola Moderna em França. Ainda na sua aldeia pobre. Inicia o programa de correspondência escolar. Publica o livro “A Imprensa na Escola” e durante os anos seguintes, com o agravamento das tensões autoritárias, é expulso do sistema de ensino e cria a sua prórioa escola, com Romain Rolland que ficou conhecido como “Frente da Infância”. É preso nos campos de concentração nazi. Após o final da guerra cria o ICEM, Cooperativa do Ensino Leigo. Em meados dos anos 50 é criada a Federação Internacional dos Movimentos da Escola Moderna (Fimem), que reúne educadores de todo o Mundo, tendo representações nacionais, conhecidos como o MEM – Movimento da Escola Moderna

A sua proposta pedagógica tem como objetivo dar ao aluno um trabalho que esteja conectado com a sua experiencia. Parte da identificação dos interesses da criança, de análise do processo de construção do seu conhecimento. A observação é um instrumento de trabalho do professor. A observação do trabalho em sala de aula é o processo que leva o educador a gerir o seu tempo e intervenção, com base na motivação da vontade de apreender do aluno.

O aluno aprende com a experiencia, mas necessita do apoio dum tutor para prosseguir. Por isso a observação do professor deve também dirigir-se para o meio onde o aluno vive, permitindo capturar a realidade vivida e criar janelas para propostas de trabalho pedagógico. Todo o trabalho dos alunos devem ser orientados para a reflexão crítica. O projeto deve ser comunicado aos pares, mas devem também ser feitos projetos de jornais, de visitas de estudo, correspondência escolar. O tutor deve procurar usar várias ferramentas para conectar os alunos com as suas realidades.

Na proposta pedagogia de Freinet são definidos Invariáveis Pedagógico. Trata-se dum conjunto de princípios de práticas educativas que devem ser levados em linha de conta, independentemente do lugar e do tempo.

Os pilares onde assenta a proposta de Freinet são:

  • A criança é da mesma natureza que o adulto.
  • Ser maior não significa necessariamente estar acima dos outros.
  • O comportamento escolar de uma criança depende do seu estado fisiológico, orgânico e constitucional.
  • A criança e o adulto não gostam de imposições autoritárias.
  • A criança e o adulto não gostam de uma disciplina rígida, quando isto significa obedecer passivamente uma ordem externa.
  • Ninguém gosta de fazer determinado trabalho por coerção, mesmo que, em particular, ele não o desagrade. Toda atitude imposta é paralisante.
  • Todos gostam de escolher o seu trabalho mesmo que essa escolha não seja a mais vantajosa.
  • Ninguém gosta de trabalhar sem objetivo, atuar como máquina, sujeitando-se a rotinas nas quais não participa.
  • É fundamental a motivação para o trabalho.
  • É preciso abolir a escolástica.
  • Todos querem ser bem-sucedidos. O fracasso inibe, destrói o ânimo e o entusiasmo.
  • Não é o jogo que é natural na criança, mas sim o trabalho.
  • Não são a observação, a explicação e a demonstração – processos essenciais da escola – as únicas vias normais de aquisição de conhecimento, mas a experiência dos sentidos que é uma conduta natural e universal.
  • A memória, tão preconizada pela escola, não é válida, nem preciosa, a não ser quando está integrada no tateamento experimental, onde se encontra verdadeiramente a serviço da vida.
  • As aquisições não são obtidas pelo estudo de regras e leis, como às vezes se crê, mas sim pela experiência. Estudar primeiro regras e leis é colocar o carro na frente dos bois.
  • A inteligência não é uma faculdade específica, que funciona como um circuito fechado, independente dos demais elementos vitais do indivíduo, como ensina a escolástica.
  • A escola cultiva apenas uma forma abstrata de inteligência, que atua fora da realidade fica fixada na memória por meio de palavras e idéias.
  • A criança não gosta de receber lições autoritárias.
  • A criança não se cansa de um trabalho funcional, ou seja, que atende aos rumos de sua vida.
  • A criança e o adulto não gostam de ser controlados e receber sanções. Isso caracteriza uma ofensa à dignidade humana, sobretudo se exercida publicamente.
  • As notas e classificações constituem sempre um erro.
  • Fale o menos possível.
  • A criança não gosta de sujeitar-se a um trabalho em rebanho. Ela prefere o trabalho individual ou de equipe numa comunidade cooperativa.
  • A ordem e a disciplina são necessárias na aula.
  • Os castigos são sempre um erro. São humilhantes, não conduzem ao fim desejado e não passam de paliativo.
  • A nova vida da escola supõe a cooperação escolar, isto é, a gestão da vida pelo trabalho escolar pelos que a praticam, incluindo o educador.
  • A sobrecarga das classes constitui sempre um erro pedagógico.
  • A concepção atual das grandes escolas conduz professores e alunos ao anonimato, o que é sempre um erro e cria barreiras.
  • A democracia de amanhã prepara-se pela democracia na escola. Um regime autoritário na escola não seria capaz de formar cidadãos democratas.
  • Uma das primeiras condições da renovação da escola é o respeito à criança e, por sua vez, a criança ter respeito aos seus professores; só assim é possível educar dentro da dignidade.
  • A reação social e política, que manifesta uma reação pedagógica, é uma oposição com o qual temos que contar, sem que se possa evitá-la ou modificá-la.
  • É preciso ter esperança otimista na vida.

A proposta pedagógica de Freinet implicas um diálogo constante com outras experiencias. Defendia que cada professor devia manter um diário sobre o trabalho desenvolvido, devia trocar correspondência com os seus pares.

Dava uma grande importância ao trabalho na sala de aula, que considerava o centro da atividade educativa, mas procurava estimular a contaminação desse espaço pedagógico por questões trazidas pelos alunos do mundo vivido. A escola é vista como um laboratório de experiencias relevantes. Na proposta pedagógica de Freinet é o trabalho de projeto que permite o desenvolvimento reflexivo, sendo a ação um aferidor da adequação à realidade. Para Freinet a ação concreta, permite a construção de pensamentos abstratos.

O desenvolvimento da atividade pedagógica implica a pesquisa, a recolha de documentação, a análise, e a formulação de uma proposta de comunicação, sando as técnicas adequadas. Neste processo o tutor intervém, ajudando na organização trabalho, motivando o aluno e o grupo. Um bom processo de aprendizagem exige alunos motivados e focados nas suas tarefas. Cada aluno deve-se sentir livre para procurar resposta aos seus problemas. Contuso essa é uma liberdade relativa, pois os problemas de cada um devem ser também problemas coletivos. E é nessa interação entre o individual e o coletivo que a liberdade do aluno se exerce, devendo cada um procurar contribuir para o resultado comum. O projeto de educação para Freinet pode traduzir-se como um processo de ultrapassar obstáculo. Um treno de solução de problams.

O método moderno desenvolvido por Freinet está apoiados num conjunto de técnicas que se desenvolvem na sala de aula:

  • A assembleia de turma, no inicio dum período de aprendizagem (ano escolar, período, semana), onde são definidos os grandes objetivos (trabalho de projeto), idealmente por escolha dos alunos.
  • A elaboração de PIT – Planos Individuais de Trabalho. Que dão corpo à necessidade de concretização de exercícios pedagógicos de expressão (escrita, gráfica, de movimentos, de aritmética) envolvendo o trabalho e a reflexão sobre os pontos fracos do aluno. Os PIT são os instrumentos de autoavaliação e são constituídas por fichas preenchidas pelos alunos, como forma de registrar a própria aprendizagem
  • A Visita de Estudo: com deslocações na envolvente da escola sobre questões do interesse dos alunos;
  • A Autocorreção: modalidade de correção de textos feita pelos próprios autores, no caso os alunos, sob a orientação do educador
  • A Correspondência Interescolar: atividade largamente utilizada por Freinet, na qual os alunos se comunicavam com outros estudantes de escolas diferentes
  • O Fichário de consulta: fichas criadas por alunos e professores, para suprir as lacunas deixadas pelos livros didáticos convencionais
  • A Imprensa escolar: os textos escritos pelos alunos tinham uma função social real, já que não serviam meramente como forma avaliativa, já que eram publicados e lidos pelos colegas
  • O Livro da vida: caderno no qual os alunos registram suas impressões, sentimentos, pensamentos em formas variadas, o qual fica como um registro de todo o ano escolar de cada classe
  • O Trabalho de projeto, que se desenvolve em torno de um trabalho em grupo, em torno de umtema comum, desenvolvido num dado período de tempo. Estes trabalhos de grupo permitem percorrers as aprendizagens essenciais.
  • O Texto Livre: tipo de texto em que o aluno não é obrigado a escrever como nas escolas tradicionais. É livre em formato e em tema. Relaciona-se com a técnica da Imprensa Escolar, Livro da vida e Correspondência Interescolar

A metodologia da escola nova é considerada adequada ao desenvolvimento do pensamento crítico, da análise e desenvolvimento do pensamento científico.

Publicado por Pedro Pereira Leite
Dinamizador do Museu Educação Global e Diversidade Cultural Museu Afro Digital – Portugal. Museu da Autonomia.

Sobre o Autor

Alexandre Rodrigues editor